Ontem estive com esta edição na mão. A pensar que este velhinho meio encolhido numa cadeira, agarrado a uma bengala como quem espera a vez no consultório médico, dificilmente encaixa no Henry Miller que transparece nas cartas que terminei de ler. Ou no que escreve o único livro que até hoje li dele, O Colosso de Maroussi.
Mas isso é só um truque da imagem, decerto é um trompe l'oeil que o corpo cria com a ajuda do tempo (isso, e o facto de não conseguir distinguir o livro no colo; essa é sempre uma boa pista).
As cartas entre Miller e Anaïs Nin parecem-me de natureza rara, seja porque são poucas as pessoas que se dão ao próximo como eles se deram, ou que são tão honestas para viver a vida como eles fizeram; ou simplesmente porque é raro encontrar alguém que nos desperte e que nos eleve como um encontrou no outro.
De correspondência entre escritores, não se esperam cartas mal escritas, mas estas espelham tão bem os autores, que quase vemos (assim como num filme) o crescimento de Miller e Nin enquanto escritores, amigos, e enquanto pessoas.
Vemos muitas outras coisas, também. Vemos uma vida inteira. Existem subtilezas que exigiriam uma releitura, passagens que mereceriam citações. Ideias, sensações, que pediriam apontamentos.
Talvez um dia lá volte.
A um dos (forçosamente) livros da vida de Miller. E da Anaïs.
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