De uma maneira geral, não me cabe a mim dizer quem sou - ou que sou isto ou aquilo; pois, ao dizê-lo, limitar-me-ia a acrescentar mais um texto aos meus textos, sem ter qualquer garantia de que esse texto fosse mais verdadeiro; todos nós somos, sobretudo se escrevemos, seres interpretáveis, mas o poder de interpretação é sempre o outro que o tem, nunca somos nós; na qualidade de sujeito, não posso aplicar a mim próprio qualquer predicado, qualquer adjectiv o - sujeito a desconhecer o meu inconsciente que, no entanto, não me é conhecível. E não só não nos podemos pensar a nós próprios em termos de adjectivos, mas até os adjectivos que nos aplicam, nunca os podemos autentificar: eles deixam-nos mudos; são para nós ficções críticas. Roland Barthes , in O Grão da Voz