Avançar para o conteúdo principal

Instantâneo #3

O nome dela é Felicidade.
Mas de dentro dela sai tristeza. Sai pelos gestos lentos e pesados, pelos olhos baços que, contaminados, passaram a descobrir o mais ténue vestígio triste na alegria que a rodeia.
As cores agridem-na, apenas se sente descansada quando esquecida no cinzento da roupa que veste, o cinzento que ela foi vendo invadi-la - primeiro o cabelo, depois os olhos... até mesmo a pele parece ter ganho um ligeiro tom de cinza.
Ela deixa. O mundo já não lhe é feito de contrastes, é apenas um monótono olhar da luz a subir e a descer atrás do nevoeiro. Repetidamente.
Do resto, esqueceu-se.

Quem lhe deu o nome talvez lhe quisesse fazer lembrar.



És tão alegre, tão claro o teu sorriso, meu menino,
Não sigas esta ventura que espalha veneno pelo ar,
Não, tu não sabes, não sabes o que é este violino,
O que é o terror escuro de quem começa a tocar.


                                                  Nikolai Gumiliov

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Da beleza #7

Na origem da beleza está unicamente a ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda. Fora de miserabilismos. A arte de Giacometti parece querer revelar essa ferida secreta dos seres e das coisas, para que ela os ilumine. Jean Genet , in O Estúdio de Alberto Giacometti Alberto Giacometti no seu estúdio em Paris (fonte aqui)

Dentro do movimento

Hoje lembrei-me do quanto gosto deste senhor.

Solstício

(fonte aqui) O dia mais longo.