Estou aqui como Rudolfo, sem saber como começar. Perdida eventualmente nos meus próprios pensamentos, um a seguir ao outro, um contradizendo o próximo ou o anterior, enredando-me em teias que eles próprios fabricam.
Li Betão, do Bernhard, num espaço de tempo muito maior do que leria um qualquer outro livro com menos de cento e vinte páginas. Às vezes tive de fugir dele, mas nunca o quis deixar, antes prolongar a sua leitura. O que talvez diga alguma coisa sobre mim...
Bernhard aprisiona-me aos seus livros, como aprisiona as personagens que lá estão dentro (lembro a prisão de Saurau, e a prisão de Rudolfo, mesmo a prisão que transparecia nos poemas). Deseja-se uma fuga que não é possível, o lugar do qual queremos escapar somos nós.
Não importa onde Rudolfo viva, estará sempre preso entre paredes de betão - as da sua mente.
Talvez não existam pessoas tão completamente dentro deste negro e perturbador viver como vivem Rudolfo, ou Anna Härdtl, ou Saurau (ou talvez sim). Mas ele existe em todos nós. "Exagerando" todo este negrume, eventualmente Bernhard chegará a cada um dos que o lêem, ao pedaço mais escuro que cá existe.
É perigoso viver demasiado tempo dentro da nossa cabeça.
Escreve, Rudolfo.
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