Avançar para o conteúdo principal

Poema à noite #6

À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do seu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
Se você não vem depressa até aqui,
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até ao amanhecer?"
Concordo, calo-me.

Carlos Drummond de Andrade, in O Amor Natural

Comentários

  1. "Não amei bastante meu semelhante,
    não catei o verme nem curei a sarna.
    Só proferi algumas palavras,
    melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

    Dei sem dar e beijei sem beijo.
    (Cego é talvez quem esconde os olhos
    em baixo do catre.) E na meia-luz
    tesouros fanam-se, os mais excelentes.

    Do que restou, como compor um homem
    e tudo que ele implica de suave,
    de concordâncias vegetais, murmúrios
    de riso, entrega, amor e piedade?

    Não amei bastante sequer a mim mesmo,
    contudo próximo. Não amei ninguém.
    Salvo aquele pássaro — vinha azul e doido —
    que se esfacelou na asa do avião"

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. there's a bluebird in my heart that
      wants to get out
      but I'm too tough for him,
      I say, stay in there, I'm not going
      to let anybody see
      you.
      there's a bluebird in my heart that
      wants to get out
      but I pour whiskey on him and inhale
      cigarette smoke
      and the whores and the bartenders
      and the grocery clerks
      never know that
      he's
      in there.

      there's a bluebird in my heart that
      wants to get out
      but I'm too tough for him,
      I say,
      stay down, do you want to mess
      me up?
      you want to screw up the
      works?
      you want to blow my book sales in
      Europe?
      there's a bluebird in my heart that
      wants to get out
      but I'm too clever, I only let him out
      at night sometimes
      when everybody's asleep.
      I say, I know that you're there,
      so don't be
      sad.
      then I put him back,
      but he's singing a little
      in there, I haven't quite let him
      die
      and we sleep together like
      that
      with our
      secret pact
      and it's nice enough to
      make a man
      weep, but I don't
      weep, do
      you?

      Charles Bukowski

      Eliminar
  2. :)
    vamos abrir um café chamado "bluebird"?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ahah, sendo o poema do Bukowski, talvez um bar fosse mais apropriado.

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Divagação #3 (sobre quartos)

O lugar perfeito para escrever sobre um quarto que seja seu, é na casa de outros. O dia propício, é aquele que inicia com um superior de hierarquia familiar a colocar-te  no lugar que, segundo ele, te pertence - o da obediência à sua vontade. Já repeti que por vezes os livros nos são tão próximos, que não há o que escrever sobre eles. Ou haverá, apenas não lhe sentimos a necessidade; são mais sentidos que pensados, se o posso dizer. Um quarto que seja seu , de Virginia Woolf, apesar de tudo, não é um desses. Não sei se existirão muitos livros que se aproximem com tanta perspicácia de questões que já coloquei sobre um assunto específico, de situações gritantes ou subtis das quais já me apercebi. Que retrate mesmo parte da minha realidade exterior. E ainda assim, leio-o sem grande emoção. Se calhar mesmo porque já pensei no mesmo; porque a situação da mulher na sociedade vem-me sendo mostrada a partir de casa, porque tenho bons exemplos das dificuldades colocadas às mul...

On reading

André Kertész , 1969 (fonte aqui)

Eu não durmo

(fonte aqui) Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria  dos astros: raia a laceração sangrenta,   estancada entre o sexo   e a garganta. Eu nunca   durmo,   com a ferida do meu próprio sono.   Às vezes movo as mãos para suster a luz que salta   da boca. Ou a veia negra que irrompe dessa estrela   selvagem implantada   no meio da carne, como no fundo da noite   o buraco forte   do sangue. A veia que me corta de ponta a ponta,   que arrasta todo o escuro do mundo   para a cabeça. Às vezes mexo os dedos como se as unhas   se alumiassem. (...) Nunca sei onde é a noite: uma sala como uma pálpebra negra separa a barragem da luz que suporta a terra. (...) Herberto Helder , Walpurgisnacht