Dizem que num rio, a água que corre nunca é a mesma. Que sempre se renova, escorrendo desde o seu nascimento até à inevitável foz, inexoravelmente. Olhando um rio, veríamos a vida do Homem passar no tempo, como se nos olhássemos de fora.
Contamos o tempo pelo passar das águas, pelo cair das folhas, pela viagem que o sol faz ao longo do céu; por todo o movimento que no alcance dos nossos olhos nos parece finito, iniciado e acabado.
Dizem que a história do Homem segue uma linha a direito, nunca igual, como o rio que corre. Mas se ele não se detém, é sempre água que nele corre.
As águas do tempo em que navego, são vastas e circulares; as suas margens, o fora e o dentro. Uma espécie de Estige invulnerável, onde se faz o voto inominável de sempre voltar.
Nessa água de incontáveis gotas, fui todos os homens que já viveram, sou a semente dos que estão por vir; estive nuns como estarei nos outros, e vejo-nos regressar incessantemente ao início, filhos do caos amorfo com o divino toque da criação.
Esta viagem, este exílio da memória, esta prisão temporária na forma, faz-me descobrir a mim mesma – fechada entre quatro muros, só posso olhar para cima.
Procuro o meio de rever o lugar de onde vim, e sei que é no teu corpo que o caminho se faz.
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