Já é Primavera há quase um mês, e eis-me aqui a segurar a caneca de chá com as mãos (ambas as mãos seria redundante). O calor vindo dela ainda é agradável.
Finalmente uma manhã com tempo para leitura silenciosa; para avançar por entre palavras que falam de palavras, em Llansol: a liberdade da alma.
É sempre preciso silêncio para ler sobre Llansol, para descobrir mais sobre aquela escrita luminosa e subtil e, especialmente, para me descobrir por entre ela, por entre o tempo que não existe, por entre a sua relação com a música, por entre a sua desmemória (Lucia Castello Branco diz: (...)Ora, se os nomes já não correspondem às coisas, é possível que as coisas possam enfim se mostrar em sua coisidade e em sua peremptoriedade inominável, inclassificável, intraduzível (...), e eu respondo: sim, sim é isso!).
É a aventura de que fala José Manuel de Vasconcelos (...) uso a palavra aventura um pouco no sentido em que as nossas infâncias eram agitadas por diversos «mundos de aventuras», que deixavam de lado os cuidados do tempo e consistiam num desenrolar de peripécias que nos prendiam por meio de uma lógica de sobressalto permanente (...), coisa que trouxe na bagagem da infância, para o pior e o melhor.
Ler sobre Llansol é quase tão bom como a ler a ela. Especialmente quando nos deparamos com quem faça as mesmas aproximações que também intuíramos - Muriel Bonicel dá-me a alegria de escrever isto:
(...) E como não pensar noutro autor que me é caro, Pascal Quignard - autor tomado no sentido de auctor, aquele que amplifica, em latim, cujo prodigioso trabalho de escrita - os Pequenos Tratados, a Retórica Especulativa e o conjunto de dez volumes intitulados O Último Reino - oferece também profundas afinidades com a obra de Maria Gabriela Llansol na sua relação com a leitura e o leitor, nomeadamente ao escrever: «Uma leitura que se suspende e que contempla, qualquer coisa que tudo contempla enquanto continua a ler...» (...).
É bom voltar a sentir a leitura a correr no rio. E eu com ela.
Nas palavras da própria Llansol:
Terminei a
manhã.
Foi uma
autêntica
bacanal
de sentido.
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