(...) - A poesia, contudo, não é modo de expressão, mas conhecimento que implica o esquecimento de si mesmo, o abandono das limitadas perspectivas individuais, a partida à descoberta de landas desconhecidas. Na verdade, trata-se da criação de um homem futuro e antigo - a antiguidade é a juventude do mundo -, de antecipar e criar as coisas e os acontecimentos, não de reflecti-los. Trata-se sobretudo de ser fiel a uma exigência fundamental: a de mudar de vida, a de transformar o mundo, e, finalmente, a de ser capaz de deixar tudo, tudo abandonar por um novo espaço uno e múltiplo, sem humanismos sediços, sem culpabilidades sexuais, sem compromissos inquinados de ordem social, sem mutilações religiosas. (...) Ernesto Sampaio , in As Coisas Naturais