Às vezes pergunto-me sobre o perigo de conhecer. Sobre o perigo de ler, de ver filmes, de enfrentar ideias que se multiplicam em cadeia aparentemente infinita. Sobre o perigo de aprender história, sociologia, política, qualquer ciência social, ecos humanos.
Tudo se toca, se mistura, se modifica e volta ao estado anterior. Tudo se transmuta em lentos 360 graus, e tudo perde a identidade quando olhamos de cima e para trás.
A solidão de viver depois dos antepassados, no fim dos tempos, é entender de repente que aquilo com que nos preenchemos pode esvaziar-nos, numa proximidade de quem vira a face de uma moeda.
Estamos sempre a um passo da loucura, da alienação, de nos determos perante a fundamental ausência de valor da diversidade humana.
E então, eu que corro esse risco consciente e voluntariamente (porque não sei ser de outro modo), dou por mim a olhar pela janela para a casa do meu vizinho, aquele que não lê, que afunda o corpo e a cabeça no trabalho, que pensa o que lhe dizem para pensar e come o que lhe dizem para comer, que segue a moda e se assusta com quem é diferente dele porque pressente a desestabilização que esse outro fará no seu mundo arrumado, e julga e critica e ofende para se defender.
E enquanto olho, entendo que é isso - defesa. Uma defesa que o faz se calhar ser mais feliz.
Mas sigo. Não quero ficar na casa desse meu vizinho mais do que o tempo de um café, de um intervalo. A dele é uma felicidade artificial. Não troco os meus momentos pela vida dele.
Se o meu é o caminho do desfiladeiro, que seja. Se saberei equilibrar-me, logo se verá.
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