Às vezes pergunto-me sobre o perigo de conhecer. Sobre o perigo de ler, de ver filmes, de enfrentar ideias que se multiplicam em cadeia aparentemente infinita. Sobre o perigo de aprender história, sociologia, política, qualquer ciência social, ecos humanos. Tudo se toca, se mistura, se modifica e volta ao estado anterior. Tudo se transmuta em lentos 360 graus, e tudo perde a identidade quando olhamos de cima e para trás. A solidão de viver depois dos antepassados, no fim dos tempos, é entender de repente que aquilo com que nos preenchemos pode esvaziar-nos, numa proximidade de quem vira a face de uma moeda. Estamos sempre a um passo da loucura, da alienação, de nos determos perante a fundamental ausência de valor da diversidade humana. E então, eu que corro esse risco consciente e voluntariamente (porque não sei ser de outro modo), dou por mim a olhar pela janela para a casa do meu vizinho, aquele que não lê, que afunda o corpo e a cabeça no trabalho, que pensa o que lhe diz...