Quando era criança, corria atrás dos pássaros de braços estendidos. Tentava apanhar-lhes o voo com os dedos, para escapar ao chão, viver nas árvores, olhar a minha casa como olhava as formigas - achava que vistos do céu, os caminhos das pessoas fariam sentido, revelariam um padrão. Por isso é que Deus sabia tudo: porque via de cima.
Depois as crianças crescem e os braços ficam mais curtos, já não são capazes de alcançar astros; deixamo-los caídos, pesados, cheios de medo de sequer apontar ao longe os pássaros da nossa infância. Afastamo-nos do mundo e o nosso crescimento diminui-nos o tamanho.
Mas os meus braços nunca se encolheram porque sempre os estiquei para as estantes dos livros - esse é o meu modo de voar, a palavra do Homem. Reflexo do Outro e espelho de mim mesma.
Vivo com a cabeça nas nuvens, mas estou mais perto do Homem do que aqueles que nunca voaram. Aproximo-me do deus da minha infância.
A leitura provoca-me às vezes a escrita. Sem pretensões, sou nefelibata.
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