Viagem interior |
Alguém escreveu que o livro da Patti Smith, M Train, é como uma carta que se recebe de um amigo.
Acho uma boa descrição.
Quando li o Just Kids, aconteceu-me sentir-me próxima o suficiente do que lia para não conseguir ou não precisar de escrever sobre ele. Neste, é ela que parece aproximar-se - como uma amiga que nos escreve sobre si.
E uma carta é para ler, não para ser comentada, por isso nem sei o que estou aqui a fazer.
Possivelmente a divagar, ainda meio embrenhada nos cafés e nas suas mesas, nas máquinas fotográficas, nos livros e nos gatos, tudo parte de um mundo onde de certo modo também pertenço.
Uma coisa em especial me ficou desta carta - os objectos. Não tanto eles mesmos, mas a importância que lhes é dada.
Demorei muito tempo para conseguir superar a incapacidade de me libertar dos objectos (ou de os libertar a eles de mim) que fossilizam e se tornam apenas peso, mas a nossa proximidade não se alterou, continuo (tal como a Patti) a falar com eles, continuo a guardar alguns como guardiões de memória, ou depositários de poderes pessoais.
Acho que é nisto que me sinto mais próxima da Patti Smith - a relação que ela tem com os objectos não é a do invejoso, é a do que vê o rasto do ser humano em tudo o que ele toca.
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