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Salvação

Salvar-se não é fácil
Primeiro há que saber-se de quem.
Não é o mesmo salvar-se do tempo
que salvar-se da chuva
Alguns dizem que há que acreditar
outros sabem que é melhor criar
para se salvar da memória e do esquecimento
Ocupar outra alma com um verso
Outro corpo com uma palavra
Outra boca com um olhar lento
Semear pedaços de alma entre as letras
Inventar palavras e mundos
Beijar lenta e muito seriamente
para que outros nos leiam
os dedos e a língua
e aí sigamos como se nada fosse
noutro rosto, noutra alma
salvos do tempo e de nós mesmos
salvos deste jogo estranho
desta doença obstinada
escrevendo palavras com a boca.


Pablo Javier Pérez López, in O Mistério do Ofício

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André Kertész , 1969 (fonte aqui)