Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2016

Do dia:

Sofia Coppola ,  Lost in Translation (2003) (fonte aqui)

Poema à noite #15

Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te no sossego feliz das folhas e das sombras. Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa. Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes. Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde. O que procuro é um coração pequeno, um animal perfeito e suave. Um fruto repousado, uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado, uma pergunta que não ouvi no inanimado, um arabesco talvez de mágica leveza. Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma? Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore. As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos. O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu, o grande sopro imóvel da primavera efémera. António Ramos Rosa , in Antologia Poética

Música à noite #47

Instantâneo #20

Atrás das cortinas, as luzes dos carros a passar na cidade muito distante. Do lado de cá, uma sala pequena, antiga, cheia de quadros em paredes azuis, como se ela própria uma pintura. Pela casa, vozes de países distantes fossilizadas em objectos, e ali, na sala, a voz de Tiago Sousa a ouvir-se através do piano preto de cauda. Poucas coisas me emocionam como ouvir e ver pessoas a tocarem - há sempre alguma magia no falar musical, e o piano, de toque de gotas a uma gravidade dramática mas nunca feroz, enchia a casa e levava-a para outro lugar. O Tiago Sousa em palco é um rapaz calado, mas fala de forma magnífica quando toca piano.

Da disposição #24

(fonte aqui) Uma mesa de madeira numa casa com janelas grandes. Vista para telhados. Casas antigas. Cadernos, papéis, lápis (lápis, sempre lápis), pincéis, aguarelas. Canetas de aparo e tinta da china. Livros, sempre livros. Uma caneca de cevada, música. Quero .

Da beleza #31

(fonte aqui)

Música à noite #46

Breve divagação #8

(fonte aqui) Tic dia tac noite. Tic dia tac noite. Tic tac, tic tac . Tic tic , tac tac . Relógio de luz e sombra: Noites iluminadas, dias mais escuros que lua nova. De dia sonho em dormir, à noite é dia nos meus sonhos. Não vivo em nenhum dos lados, apenas na linha atemporal entre eles.

Pedaços de mim na fala dos outros #24

"Repara bem no que não digo"

(...) On 22October, Allen stood before the lion-faced doorbell of the narrow three-floor house on Calle Querini that Olga Rudge had owned since 1928. Pound was silent throughout the visit. (...) Allen recorded in his journals: 'He had come upstairs swiftly when I asked him to listen, and folded self in chair, silent hands crossed on lap, picking at skin, absorbed.' Allen put on the Beatles' 'Eleanor Rigby' and 'Yellow Submarine'. Pound smiled lightly at the line 'no one was  saved'. Allen played Dylan's 'Sad-Eyed Lady of the Lowlands', and 'Gates of Eden', sometimes repeating words aloud for Pound to hear clearly. Allen even brought along Donovan's 'Sunshine Superman'. (...)'Sat there all along,' Allen wrote. 'I drunk, he impassive, earnest, attentive, asmile.' Allen continued the concert by chanting mantras to Krishna, Tara and Manjusri. Hearing the Manjusri mantra, Olga Rudge came to the top floor

Da beleza #30

Michael Himpel (fonte aqui) Um lugar para viver .

Poema à noite #13

Carregando as persianas vem a noite. Na sala tão severa, como cegos, procuram-se uma à outra as nossas solidões. Sobreviveu à tarde a brancura gloriosa da tua carne. No nosso amor há uma pena parecida com a alma. Tu a que ainda ontem eras só toda a beleza é agora também todo o amor. Jorge Luis Borges , in Obras Completas Vol.1

Da beleza #29

Auguste Rodin , Torse d' Adèle (fonte aqui)

À noite

(fonte aqui)

Da disposição #22

 Le Principe du Plaisir , René Magritte (fonte aqui)

Teimosia

(fonte aqui)

Poema à noite #12

Iniciados cedo nos mistérios da insónia deixámo-nos ficar na cama através da selva dos ruídos Que inquietação me criou, se tudo era sossego e silêncio, medida e equilíbrio, repouso e eternidade Ernesto Sampaio , in A Procura do Silêncio

Da disposição #21

(fonte aqui)

I'm just visiting

Passava pouco das sete da manhã quando soube. Quando a mão se dirigia ao puxador da porta para a abrir, já ouvia atrás dela os primeiros acordes da Lazarus , música que ouço todos os dias desde que foi lançada, e entrei sorrindo por começar o dia com Bowie. Mas afinal era o reverso da alegria. Cheguei a uma idade em que começo a ver as figuras que ajudaram a definir-me, seguirem e deixarem de me acompanhar, e talvez isso seja também envelhecer. Não gosto de falar demais; há sempre muito que se dizer, mas tudo isso me parece supérfluo e insignificante - quanto mais sinto, mais me calo. Por isso, isto é o choque a falar - o choque de ter estado este tempo todo a ouvir o Bowie dizer-me adeus de um modo tão perturbador, de tão incapaz eu fui (e sou) de não o ouvir. Está aqui tudo, talvez; mas se ele se despediu de mim, eu não me despedirei dele nunca. The Man Who Fell to Earth (1976) (fonte aqui)

I was so sorry

(fonte aqui) I was so sorry that  I would never possess anything good; that nothing good  would ever  belong to me. Not because  I was always  poor in dollars But because  I was poor  at expressing myself  one-on-one. I was as yellow as the sun  perhaps but also as warm and as true  as the sun somewhere there inside me but nobody would ever find it. Charles Bukowski

Dos dias

Ramon Casas i Carbó (fonte aqui)

Pergunta #15

(fonte aqui)

Roll the dice

Recado #25

Não deixes que o frio te chegue aos ossos Agasalha-te e passa ao largo dos dias Caso não seja possível: investe em melancolia Mas agasalha-te Não deixes que o mundo te dite o silêncio Cala-o tu Manuel A. Domingos , in Baço

Instantâneo #19

A rua é estreita. Lá ao longe há uma mulher petrificada, parada num tempo qualquer. Vindo de lá, por entre as casas e a estação, o sol quase cega através dos pingos escassos da chuva. Só aquela luz é real. Tudo o resto é insignificante em comparação.

Começo do ano

O início do ano trouxe velhas limitações, velhos defeitos. E essa parte de mim sobreposta ao meu todo tirou-me uma das coisas mais preciosas que tinha. Foi o pior início de ano da minha vida.

Saturno

Quem nunca comeu pão com lágrimas, Quem nunca passou uma noite cheia de preocupações, soluçando em sua cama, não conhece... os poderes celestiais. Goethe

Kit básico

Comecei o ano a receber palavras simpáticas. Tenho uns lápis tão bons, que quase parece que sei pintar. Quando abro a caixa, os cheiros da madeira e da tinta misturam-se numa sensação melíflua e adocicada que se estende no papel e escorrega na água. Tenho espalhados pela casa livros cheios de palavras de outros a preencherem espaços vazios. Tenho pessoas para encontrar. E caminho para fazer. Tenho a caneta e o caderno para escrever. E tenho esta música para me acompanhar sempre : Tenho o kit básico para começar o ano.