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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2015

Da beleza #13

(fonte aqui)

Poema à noite #2

que eu aprenda tudo desde a morte, mas não me chamem por um nome nem pelo uso das coisas, colher, roupa, caneta, roupa intensa com a respiração dentro dela, e a tua mão sangra na minha, brilha inteira se um pouco da minha mão sangra e brilha, no toque entre os olhos, na boca, na rescrita de cada coisa já escrita nas entrelinhas das coisas, fiat cantus! e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra, o canto comum-de-dois, o inexaurível, o quanto se trabalha para que a noite apareça, e à noite se vê a luz que desaparece na mesa, chama-me pelo teu nome, troca-me, toca-me na boca sem idioma, já te não chamaste nunca, já estás pronta, já és toda Herberto Helder , in A faca não Corta o Fogo

Música à noite #18

Pedaços de mim na fala dos outros #17

" (...) pois outro eu meu se atravessa na Noite ______________ e o meu corpo é um só, e está só. O que quero dizer é que antes de adormecer e de entrar no sono, levanto a poeira que me cobre de emoções  distantes. ________________ não acendo mais, para dormir, outra luz que não seja a luz da espera . Ela seduz por inteiro o quarto pequeno ____________ absorve-o na noite. E é nessa noite, receptiva às perguntas claras, que eu quero saber _______________ (...)" Maria Gabriela Llansol , in LISBOALEIPZIG O encontro inesperado do diverso / O ensaio de música

Em dias de Verão

A brisa quente rasando o rosto e emaranhando-se nos cabelos. A sombra do corpo a caminhar na cidade. O rio saturado da luz do sol. Os edifícios brancos como ecos de uma ilha grega. O cheiro forte, acre, da água no asfalto quente. O barulho suave das solas do calçado nas ruas vazias, à noite, na curva do dia.

Se os conselhos fossem bons, davam-se num blog (#6)

(fonte aqui)

Do caminho

(fonte aqui)

Música do dia

Música à noite #17

Eu não durmo

(fonte aqui) Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria  dos astros: raia a laceração sangrenta,   estancada entre o sexo   e a garganta. Eu nunca   durmo,   com a ferida do meu próprio sono.   Às vezes movo as mãos para suster a luz que salta   da boca. Ou a veia negra que irrompe dessa estrela   selvagem implantada   no meio da carne, como no fundo da noite   o buraco forte   do sangue. A veia que me corta de ponta a ponta,   que arrasta todo o escuro do mundo   para a cabeça. Às vezes mexo os dedos como se as unhas   se alumiassem. (...) Nunca sei onde é a noite: uma sala como uma pálpebra negra separa a barragem da luz que suporta a terra. (...) Herberto Helder , Walpurgisnacht

Da disposição #10

(fonte aqui)

Amora não é nome de fruto

Amora não é nome de fruto. É nome de menina silvestre, de lábios beijáveis, que viaja numa bicicleta enferrujada e se descobre nos livros que vivem com ela. Escreve cartas à noite no vento, chora de manhã com o orvalho se não tem resposta. É tão pequenina que poucos a vêem. Mas ela guarda cada um deles e nunca mais os deita fora. O tempo da Amora começa a 17 de Junho. For all the things that you've given me Will always stay, there broken but I'll never throw them away Tom Waits , Broken Bicycles

16 de Junho

Hoje é o famoso Bloomsday . E eu, que tenho parte de mim entre as páginas do Ulisses , e sou toda olhos e espanto quando me apercebo da incrível capacidade de escrita do James Joyce, não poderia deixá-lo em branco. Mas, como sou dispersa, e porque também é dia de lembrar Mourão-Ferreira, fica a minha associação de ideias, ainda que possa ser rebuscada: Penélope Mais do que um sonho: comoção! Sinto-me tonto, enternecido, quando, de noite, as minhas mãos são o teu único vestido. E recompões com essa veste, que eu, sem saber, tinha tecido, todo o pudor que desfizeste como uma teia sem sentido; todo o pudor que desfizeste a meu pedido. Mas nesse manto que desfias, e que depois voltas a pôr, eu reconheço os melhores dias do nosso amor. David Mourão-Ferreira

Da disposição #9

(fonte aqui)

(parêntesis) #24

O Ulisses , de Joyce, promete ser um grande livro. E por entre milhares de espelhos a reflectirem ideias, descubro imagens que são como fotografias. Por exemplo: On his wise shoulders through the checkerwork of leaves the sun flung spangles, dancing coins.

(pequena) Música à noite #16

Música à noite #15

O que é isto, Wislawa?

Leitura para a vida

(...) Home is where one starts from. As we grow older the world becomes stranger, the pattern more complicated Of dead and living. Not the intense moment Isolated, with no before and after, But a lifetime burning in every moment And not the lifetime of one man only But of old stones that cannot be deciphered. There is a time for the evening under starlight, A time for the evening under lamplight (The evening with the photograph album). Love is most nearly itself When here and now cease to matter. Old men ought to be explorers Here or there does not matter We must be still and still moving Into another intensity For a further union, a deeper communion Through the dark cold and the empty desolation, The wave cry, the wind cry, the vast waters Of the petrel and the porpoise. In my end is my beginning. T.S. Eliot , East Coker , in Four Quartets

Desejo para a vida

Este verão ensina-me um rosto gelado feliz Este verão ensina-me tenho que ser eu a bater no tambor quando quiser dançar Este verão ensina-me a ser sem felicidade sem tristeza por uns segundos aliada de Deus Este verão ensina-me a acordar de manhã. Grata. Sozinha. Este verão ensina-me que a folha do limoeiro só deita cheiro quando a desfazemos entre os dedos. Ulla Hann , in  A Sede Entre os Limites