Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2014

A palavra

Lo que me gusta de tu cuerpo es el sexo. Lo que me gusta de tu sexo es la boca. Lo que me gusta de tu boca es la lengua. Lo que me gusta de tu lengua es la palabra.   Julio Cotázar

Se os conselhos fossem bons, davam-se num blog

Mudança de Estação #2

Comecei a ler António Lobo Antunes. Depois de cerca de um ano de intervalo, voltei a entrar nas casas de perfumes antigos onde os mortos nos olham dos retratos. E com saudades, confesso. Mas depois, por uma daquelas situações aparentemente banais, levei o Estação , do Nuno Bragança, para a rua. Puxei dele na aborrecida viagem do autocarro, e logo ele puxou por mim. Uma mão cheia de contos curtos no comprimento, mas longos na profundidade e enormes na escrita. Cada conto é como um bom actor a representar um papel diferente; reconhecemos-lhe o corpo, mas a voz é absolutamente adaptada à história que conta. Eu estou a anos-luz de ser crítica literária, e há poucas coisas que me interessam tão pouco quanto essa, mas a escrita do Nuno Bragança encheu-me as medidas - é vibrante, directa e absolutamente viva! Foi a melhor surpresa que li nestes primeiros dias de mudança da estação. E agora, reentro na casa de Lobo Antunes. Certa que um dia farei uma directa em square tol

Morfeu e eu

Li algures que quando as pessoas estão felizes, precisam de dormir menos. Os insones devem ser felicíssimos. E eu, miserável. Tenho uma relação muito próxima (e de alguma posse, se não de possessão) com o Morfeu, acho que vou ser infeliz a vida toda. Serei feliz na minha infelicidade.

Recado

NOTE TO SELF:

Mudança de Estação

mudança de estação para te manteres vivo - todas as manhãs arrumas a casa sacodes tapetes limpas o pó e  o mesmo fazes com a alma - puxas-lhe o brilho regas o coração e o grande feto verde-granulado deixas o verão deslizar de mansinho para o cobre luminoso do outono e às primeiras chuvadas recomeças a escrever como se em ti fertilizasses uma terra generosa cansada de pousio - uma terra necessitada de águas de sons de afectos para intensificar o esplendor do teu firmamento passa um bando de andorinhões rente à janela sobrevoam o rosto que surge do mar - crepúsculo donde se soltaram as abelhas incompreensíveis da memória luzeiros marinhos sobre a pele - peixes que se enforcam com a corda de noctilucos estendida nesta mudança de estação - Al Berto , Horto de Incêndio

À chuva

( http://modosdeolhar.blogspot.pt/2013/01/helder-reis-fotografia.html ) The Crunch too much too little too fat too thin or nobody. laughter or tears haters lovers strangers with faces like the backs of thumb tacks armies running through streets of blood waving winebottles bayoneting and fucking virgins. an old guy in a cheap room with a photograph of M. Monroe. there is a loneliness in this world so great that you can see it in the slow movement of  the hands of a clock people so tired mutilated either by love or no love. people just are not good to each other one on one. the rich are not good to the rich the poor are not good to the poor. we are afraid. our educational system tells us that we can all be big-ass winners. it hasn't told us about the gutters or the suicides. or the terror of one person aching in one place alone untouched

Walt (W)hitman

I I celebrate myself, and sing myself, And what I assume you shall assume, For every atom belonging to me as good belongs to you. I loafe and invite my soul, I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass. My tongue, every atom of my blood, form'd from this soil, this air, Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same, I, now thirty-seven years old in perfect health begin, Hoping to cease not till death. Creeds and schools in abeyance, Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten, In harbor for good or bad, I permit to talk in every hazard, Nature without check with original energy. XXX All truths wait in all things, They neither hasten their own delivery nor resist it, They do not need the obstetric forceps of the surgeon, The insignificant is as big to me as any, (What is less or more than a touch?) Logic and sermons never convince The damp of the night drives de

Yeoubi

Estou fulgurando aqui; está fora desta relação o cansaço das cinzas. Nem o primeiro frio, vindo depois do fulgor, me fará abrir a porta _______ e cair. Maria Gabriela Llansol  

Alquimia

J'écrivais des silences, des nuits, je notais l'inexprimable. Je fixais des vertiges. Arthur Rimbaud Não tenho talento para a escrita. Quanto mais leio, mais o sei. É triste, porque se olhar com atenção, é por amor a ela que amo ler. Escrever mal parece uma traição. Sinto-me uma espécie de Joseph Grand, sem encontrar as palavras certas; e no entanto, acabo sempre por escrever. Preciso da escrita para transcrever os meus próprios silêncios e parar a vertigem. Ou tentar. Procuro-me nas minhas palavras ao estilo de Flannery O'Connor, que dizia escrever porque não sabia o que pensava até ler o que dissera. Não é nada de novo - sou apenas mais um ponto numa linha tão longa quanto a existência da minha raça. A escrita é tradução do Homem; tudo o que ele faz, pensa ou quer guardar no tempo, ele escreve. O que se terá passado na cabeça do primeiro Homem a escrever?... O que quer que seja que tenha sido, a escrita foi a sua primeira afirmação enquanto tal. Auto-conh

Nefelibata

Quando era criança, corria atrás dos pássaros de braços estendidos. Tentava apanhar-lhes o voo com os dedos, para escapar ao chão, viver nas árvores, olhar a minha casa como olhava as formigas - achava que vistos do céu, os caminhos das pessoas fariam sentido, revelariam um padrão. Por isso é que Deus sabia tudo: porque via de cima. Depois as crianças crescem e os braços ficam mais curtos, já não são capazes de alcançar astros;  deixamo-los caídos, pesados, cheios de medo de sequer apontar ao longe os pássaros da nossa infância.  Afastamo-nos do mundo e o nosso crescimento diminui-nos o tamanho. Mas os meus braços nunca se encolheram porque sempre os estiquei para as estantes dos livros - esse é o meu modo de voar, a palavra do Homem. Reflexo do Outro e espelho de mim mesma. Vivo com a cabeça nas nuvens, mas estou mais perto do Homem do que aqueles que nunca voaram. Aproximo-me do deus da minha infância. A leitura provoca-me às vezes a escrita. Sem pretensões, sou nefeliba