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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2015

Da disposição #16

(fonte aqui)

Resumo do dia:

As palavras de Pascal Quignard, (...)Como os livros quando são bons fazem cair não só as defesas da alma mas todas as muralhas do pensamento que se vê, subitamente, apanhado de surpresa. Como as grandes pinturas, que se fixam nas paredes, quando são admiráveis, abrem mais a parede que o fariam uma porta, uma janela, uma abertura vidrada, uma seteira, etc. Como a música comove para além de si e ganha aos seus ritmos o coração e a respiração e a separação primeira, e a angústia primeira que a acompanhava, e  a esperança que daí nasce ao longo de toda a vida. in Vida Secreta os sons de David Sylvian:

Do caminho #3

A ler estrelas

Sinto-me como que a ver estrelas ao ler o Vida Secreta do Quignard. No meio da escuridão, lá está uma, e depois outra e mais outra. Cada ideia, uma estrela, e estou a ver constelações mesmo que as não discirna. Mas quando as distingo, quando entendo o desenho maior que cada ideia forma, então é como olhar o céu e perceber as relações entre o que parecia isolado. Espécie de astronomia, ler este livro.

Da beleza #19

(fonte aqui)

Música à noite #25

God is in the silences Between the rhythms rise and falling The starring of the skies of blue The promise of tomorrows calling Hey ho and away we go Hey ho come morning Hey ho and away we go Hey ho come morning Hey ho and away we go Hey ho come morning 

Do caminho #2

(fonte aqui) O caminho é sempre estreito, o norte é sempre longínquo. Mas embora todos nós caminhemos, poucos de nós viajam. Talvez levássemos uma vida mais preenchida e compreendida, se o fizéssemos. Se tivéssemos a disposição de conhecer o Outro - o outro espaço, o outro tempo, o outro ser. Não é preciso levar a vida de Bashô, apenas ver como ele. Quando Bashô escreve, o tempo já foi abolido, porque ele vê o que permanece, o que veio de ontem, o que ficará amanhã - como tão bem o diz Quignard, produz um curto-circuito . E nesse curto-circuito tudo é ao mesmo tempo (assim como se o aleph estivesse em nós ). São assim os poemas que escreve (e que só poderiam ser haiku ), e é assim o relato da sua viagem. Ao visitar muitos lugares cantados em velhos poemas, quase sempre as colinas se achataram, os rios secaram, os caminhos desapareceram, as pedras se cobriram de hera e árvores novas substituem as velhas e veneráveis. O tempo passa e pass

Música para o dia #2

Das leituras #2

Guardei para ler Bashô quando estivesse embrenhada no livro de Quignard. Acho que fiz bem. Ambos falam de beleza sem escreverem sobre ela. Ambos escrevem num tempo sobre o que está fora dele. Os haiku de Bashô são instantâneos perfeitos: a imagem de um momento irrepetível captado de tal forma que nos apercebemos da intemporalidade da sua natureza. Quanto tempo em contemplação, procurando talvez palavras como quem procura ouro, escolhendo, polindo, até chegar ao essencial? Há mais silêncio que palavras na poesia de Bashô. Talvez isso o aproxime da beleza - ele não fala sobre ela, mas dela . Admirável aquele cuja vida é um contínuo relâmpago Matsuo Bashô , in O Gosto Solitário do Orvalho

Música à noite #24

Da beleza #18

(fonte aqui)

Música à noite #23

Da disposição #15

Poema à noite #4

Pensar é encher-se de tristeza «To think is to be full of sorrow.» J. Keats Ode to a Nightingale Pensar é encher-se de tristeza e quando penso não em ti mas em tudo sofro Dantes eu vivia só agora vivo rodeada de palavras que eu cultivo no meu jardim de penas Eu sigo-as e elas seguem-me: são o exigente cortejo que me persegue Em toda a parte ouço o seu imenso clamor Ana Hatherly , in O Pavão Negro

Resumo do dia:

Silêncio, Llansol e Bergman. Vontade de traçar a escrita no papel, onde "cada traço feito no que se quer traçar fará chover formas complexas e de fulgurância ligeira que se desdobram num nada contínuo e imperceptível." Maria Gabriela Llansol , in Ardente Texto Joshua

Pedaço de fio-pensamento

Parei em frente da janela para olhar para fora. Céu despido e tudo à volta coberto de sol. Um clarão. Nada escapa à luz, como um mundo subjugado ou rendido. E perguntei-me: Porque nos agitamos tanto para nos fazermos entender? Se afinal, tudo o que permanece é silencioso e quieto - simplesmente é e não apenas  está  (ao qual é inerente o movimento e o tempo). Lembro a propósito, o meu professor de língua alemã a perguntar porque haveríamos de ter dois verbos para dizer o mesmo - ser e estar. E eu a perguntar como não se entenderia uma diferença tão pouco subtil... A linguagem e o modo como ela influencia o pensamento. Ou será o contrário?... Dois momentos se destacam nas minhas primeiras memórias, porque só meus: A primeira imagem que retive, talvez no primeiro ano, como se tivesse chegado ao mundo naquele momento e não num qualquer anterior - a primeira vez que tive consciência que existia. E a primeira vez que me apercebi do pensamento, que eu falava comigo numa voz s

Dos filmes da vida

Persona  (1966) Ingmar Bergman (fonte aqui)

Música à noite #22

Das leituras

De todas as vezes em que quis escrever sobre o Just Kids e não consegui, me lembrei de como a Patti Smith não conseguia escrever sobre Rimbaud na sua viagem a Charleville. Por vezes estamos demasiado próximos; será isso? Difícil ver as palavras a essa distância. A Patti Smith cativou-me logo à primeira página com uma visão de infância a indicar que nascera para nomear o mundo. Em beleza. O resto, é uma história de amor; amor por uma cidade e pelos seus artistas, pela vida criativa, pela arte ; amor pelo crescer e encontrar-se. Amor pela pessoa que fez essa parte do caminho com ela, e a quem ela homenageia num livro-elegia de beleza delicada. O livro tem para mim demasiados pormenores, demasiadas proximidades que não se despejam num texto, por muito que o desejasse. Tudo o que eu escrever aqui não lhe fará justiça, por isso, se alguém me estiver a ler,  vão antes ler o livro .

Da criação

Há um prazer no fazer um trabalho que se gosta, que ultrapassa o trabalho em si. Não sei quanto há, nesse prazer, de Pigmaleão e de Narciso, quando olhamos a obra pronta - olhamos a obra, ou a nós? É destrinçável? Estaremos a olhar afinal para as mesmas águas que Narciso? (E ocorre-me a criação divina do homem à sua imagem, mas não irei por esses caminhos hoje) Apesar de tudo o que se possa dizer em nossa defesa, e do quão pouco se goste de o admitir, creio que é inevitável uma certa dose de egocentrismo em toda a criação. Mas talvez haja um atenuante - a satisfação do outro ao receber o trabalho feito.