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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2014

Do meu calendário

O fim do Verão é o início do ano no calendário celta. Para quem tem enraizado que o começo vem com a chegada da luz, a ideia de que o dia e o ano iniciam na escuridão, parece incompreensível. Mas não é a partir da noite que se cresce para a luz? Não é na escuridão da terra que a semente começa a crescer? Começa na noite o dia entre os anos, entre aquele que termina e aquele que virá. Dia fora do tempo, amorfo, permeável, dia do caos onde tudo se mistura para se refazer. Dia do meu calendário pessoal.

Do movimento

No princípio, era a dança. Poesia sem palavras.

O vazio da metamorfose

Jean-Luc Godard, Alphaville , 1965 Pedaço da mulher que fui. A que era mais nova que esta de agora, mas que por ser passado se tornou velha. Agora a nova sou eu. A idade não me reflecte, sou demasiadas num só corpo. Pedaço da mulher que fui, que se cruzou comigo, ao longe. E o vazio que se torna visível, quando reparamos que a metamorfose se deu. Nous naissons de partout nous sommes sans limites . Paul Éluard , Et Notre Mouvement

Sol de Outono

O sol aquece e esquece que estamos em Outubro, e não ainda em Junho. Talvez esteja perdido, talvez seja saudoso, ou então não saiba o que mais fazer ( Que sei eu fazer se não alumiar-vos o caminho, aquecer-vos o corpo e dar-vos a ilusão de que o dia irá correr melhor por minha causa? ). Não se espera um sol assim com ambos os pés no Outono. Hoje desceu um sol de Outono a calçada onde vivo.  Mas em vez do carro de Hélio, vinha de bicicleta, ao som da flauta, o amolador. Sol poente de Outono lembrando o Verão na minha infância, que tal como o outro, não pode deixar de ser o que é. Mesmo que nestes dias faça tanto sentido ouvir a melodia do amolador quanto sentir o calor deste sol.

"Bukwiser"

(fonte aqui) Não tenho o hábito de beber cerveja (se tivesse, talvez o trocadilho me saísse melhor), mas tenho o de beber Bukowski. E se há coisa que ele é, é sábio.

Não são os sapatos que fazem barulho no chão

(não são os sapatos que fazem barulho no chão, é o chão que ressoa na gente) António Lobo Antunes , in Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar? Se esta casa fosse mais vazia, seria menos oca. Se fosse mais silenciosa, ouvir-se-ia o som em vez dos barulhos. Uma casa mais leve, onde entrasse a luz no verão e a sombra no inverno, misturadas as duas nas cores frescas da primavera e nas outonais quentes. Uma casa aberta. Onde o barulho dos sapatos no chão seria este a ressoar em mim - ouvindo a voz dos objectos, sentindo-lhes a vida (assim ao jeito da Llansol). Povoariam livremente o silêncio da minha casa, as personagens que vivem dentro de mim nos sonhos; passearíamos pelos problemas insolúveis da vida ao longo de noites inteiras (que lindas são as palavras do Nuno Bragança), e sem dúvida eu escreveria tudo num caderno, porque tenho a mania dos apontamentos. Entrariam amigos de prosa e café (como diz um deles), deixando na saída rastos nas coisas a acrescentar-lhes vi

Omni - Sack

Walt Disney,  The Sword in the Stone , 1963 Agora, isto é que me dava jeito! Uma espécie de omni-sack  do Sport Billy, em versão literária!

Disseram-me para vir

http://instagram.com/p/tgKHTTPYbk/ Disseram-me para vir, e eu vim. Mas não sei para quê.

Quem tem medo do Lobo Antunes?

E a chuva não caía, não havia «gotas que acrescentavam vidro ao vidro deformando as roseiras à medida que desciam». Mas os troncos caminhavam para trás na viagem de regresso a Lisboa, enquanto Lobo Antunes invocava fantasmas fechados numa gaveta feita de páginas. Na verdade, não sei se ele os invoca ou se são eles que o escolhem para lhes dar voz, mas deve haver qualquer tipo de transferência entre escritor e personagens, para que lhes consiga chegar tão fundo. Ler António Lobo Antunes não é para meninos; não é para quem gosta de ler histórias, mas para quem quer ler pessoas ( Os romances maus contam histórias, os romances bons mostram-nos a nós mesmos ). É para quem não tem medo de enfrentar o interior de personagens que espelham pedaços de nós (não nas acções; nas fraquezas, nos pensamentos que não gostamos de admitir nem a nós mesmos). É para quem não tem medo de não saber o que dizer dos seus livros, mas tem a coragem de mergulhar neles. Porque afinal, é impossível f