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A mostrar mensagens de setembro, 2015

Do dia:

Do dia:

We shall not cease from exploration And the end of all our exploring Will be to arrive where we started And know the place for the first time. Through the unknown, remembered gate When the last of earth left to discover Is that which was the beginning; At the source of the longest river The voice of the hidden waterfall And the children in the apple-tree Not known, because not looked for But heard, half heard, in the stillness Between the two waves of the sea. Quick now, here, now, always-- A condition of complete simplicity (Costing not less than everything) And all shall be well and All manner of things shall be well When the tongues of flame are in-folded Into the crowned knot of fire And the fire and the rose are one. T.S Eliot , Little Gidding , in Four Quartets

Música à noite #31

Pedaços de mim na fala dos outros #20

Gostava dessa espécie de beleza que podemos surpreender a cada passo, desvelada pelo acaso numa esquina de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta que foi toda a infância de alguém, com visitas ao domingo e tardes no quintal depois da escola; a beleza crepuscular de alguns rostos num retrato de família a preto e branco, ou a de certos hóteis que conheceram há muito os seus dias de fulgor e foram perdendo estrelas; a beleza condenada que nos toma de repente, como um verso ou o desejo, como um copo que se parte e dispersa no soalho a frágil luz de um instante. Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada onde a vida encontra o espelho mais fiel.   Rui Pires Cabral ,  Oráculos de Cabeceira

Curvas

O banho é curvo, a verdade é curva, eu não resisto às verdades rectas. Viver é curvo, a poesia é curva, o coração é curvo. Eu gosto das pessoas curvas e fujo, por serem peste, das pessoas rectas. Jesús Lizano , in  O Engenhoso Libertário E aqui, o próprio.

Dos amigos

Nunca o conheci. O mais perto que estive disso, foi partilhar um mesmo lugar que ele, e ouvi-lo, por sorte e por momentos, contar daquelas histórias maravilhosas que se passavam com escritores, e que eu seria capaz de ouvir durante horas. Não precisaria de mais nada para me cativar senão aquele momento, mas acontece que o que ele já fizera pela cultura e pelos leitores deste país era já demasiado grande para não gostar dele por isso. Este é o tipo de pessoas que nos tornam sortudos de os termos tido perto; o tipo de pessoas a quem agradeço por me ter tornado mais rica. Este é o meu tipo de pessoas, e eu sinto-lhe a falta quase como a um amigo. Porque na verdade, o é. Vitor Silva Tavares: certos curtos sinais (1.ª parte) Vitor Silva Tavares: certos curtos sinais (2.ª parte)

Da beleza #20

(fonte aqui)

Música à noite #30

Das palavras

Todas as palavras adormeceram em mim. Não ditas, não escritas. Por fazer. À espera da forma, do contorno, da curva , do som, do tom . À espera de saírem em silêncio pelos olhos, pelos dedos; em sussurros pelos lábios, em movimentos pelo corpo. Em desenhos pelo traço do lápis no mover da mão. À espera de serem tecidas na trama do som e silêncio. Adormeceram em mim como sementes. À espera das primeiras chuvas.

Dos dias:

Jan Davidsz de Heem - Natureza morta com livros (fonte aqui)

Poema à noite #5

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. Manoel de Barros ,  Tratado geral das grandezas do ínfimo

Música à noite #29

Fala da folha

O problema é que por vezes, não há o que falar. Ficas a olhar a folha verde tenro que apareceu nos dias em que estiveste fora, e calas-te, como se para a ouvir falar-te em silêncio. (Silêncio, sempre o silêncio. Lugar onde se guardam as palavras-tesouro .) E tudo parece demasiado - as palavras que ouves nas conversas da rua e as que respondes; as palavras que ouves e lês na informação saturada das redes sociais, nos jornais, noticiários, colunas de opinião, na vaidade alheia. Parece que apenas os livros te dão uma sensação de segurança e conforto, o último lugar onde a fala ainda diz . Mas as próprias palavras já se diluíram no tempo. Ou melhor, sob os passos dos milhões de vozes que as usaram, que as misturaram com outras, as modificaram, as interpretaram traindo-as. E queres desdobrar-te em degraus pelo passado fora, ao estilo da Verónica de Eliade, e entender as palavras antes de terem sido esvaziadas, quando eram vivas e poderosas. Porque pensas como o mago que Quig

Música à noite #28

Ahhhhh (a descoberta)

Música à noite #27

(parêntesis) #37

Un Homme Qui Dort ,  Bernard Queysanne   (baseado no livro de Georges Perec ) O despertador que não tocou, não toca, não tocará para te acordar.

Divagação #2

Às vezes pergunto-me sobre o perigo de conhecer. Sobre o perigo de ler, de ver filmes, de enfrentar ideias que se multiplicam em cadeia aparentemente infinita. Sobre o perigo de aprender história, sociologia, política, qualquer ciência social, ecos humanos. Tudo se toca, se mistura, se modifica e volta ao estado anterior. Tudo se transmuta em lentos 360 graus, e tudo perde a identidade quando olhamos de cima e para trás. A solidão de viver depois dos antepassados, no fim dos tempos, é entender de repente que aquilo com que nos preenchemos pode esvaziar-nos, numa proximidade de quem vira a face de uma moeda. Estamos sempre a um passo da loucura, da alienação, de nos determos perante a fundamental ausência de valor da diversidade humana. E então, eu que corro esse risco consciente e voluntariamente (porque não sei ser de outro modo), dou por mim a olhar pela janela para a casa do meu vizinho, aquele que não lê, que afunda o corpo e a cabeça no trabalho, que pensa o que lhe diz

Pascal Quignard e eu #3

Tudo o que comove a alma está no que transporta o que nela é outro no outro. Pascal Quignard , in Vida Secreta A ler o Vida Secreta de Quignard, não sei bem se sou eu quem se dissolve no espaço entre as palavras, e é absorvida, ou se são as palavras que preenchem espaços vazios em mim e me completam. Alguma espécie de osmose, talvez, acontece. Tenho um livro cheio de papelinhos coloridos a marcarem ideias a relembrar, a desenvolver, a sublinharem a proximidade com qualquer parte de mim que sempre teve dificuldade em encontrar companhia no que a rodeava. Pascal Quignard foi das melhores descobertas que podia ter dado ao meu pensamento. Por isso, sim, ele é para ler e para   ver e ouvir . Ao longo da vida (secreta).

Poema à noite #4

Há por aqui outras paisagens?, perguntam por vezes as crianças. Eu parto o caminho em pedaços e ofereço-lhes Serpentinas, serpentinas, que elas recebem como maçãs e papoilas. Porque tempos houve em que dormíamos nas palavras, Tempos houve em que fazíamos explodir o tempo.   Robert Schindel , traduzido por João Barrento, in Telhados de Vidro n.º 11, Lisboa: Averno, 2008

Dos males de que sofro

Monty Python , Flying Circus (fonte aqui)

Música à noite #26