Impressões do teatro
Mais importante na tragédia para mim é o sexto acto:
o reviver dos mortos nas cenas de combate,
o corrigir das perucas e dos trajes,
o arrancar da faca do coração,
o retirar da corda do pescoço,
o enfileirar ao lados dos vivos
de cara voltada para o público.
As reverências um a um e em conjunto:
a mão branca na ferida do coração,
a respiração da suicida,
a cabeça cortada que se inclina.
As reverências aos pares:
a ira dá a mão à suavidade,
olha afável a vítima nos olhos o verdugo,
tropeça sem rancor o rebelde ao lado do tirano.
O pisar da eternidade pela biqueira dourada da botina.
O dispersar das morais pela aba do chapéu.
A incorrigível prontidão de tudo reatar no dia seguinte.
A entrada em procissão dos mortos muito antes,
no terceiro acto,no quarto ou nos entreactos.
O mágico regresso dos desaparecidos sem notícia.
Pensar que esperaram nos bastidores, sem impaciência,
sem tirarem as vestes,
lavar as maquilhagens,
emociona-me mais do que as tiradas trágicas.
Mas realmente delirante é o cair do pano
e o que na estreita frincha é dado ver ainda:
é uma mão que apressada a flor apanha,
outra que vai pela espada abandonada.
É só então que vem uma invisível terceira
cumprir a obrigação:
dar-me o nó na garganta.
Shakespeare disse que todo o mundo é um palco, mas eu acho que Wislawa o diz melhor - a vida é como uma peça de teatro.
Realidade ilusória, verdadeira apenas quando representada. As impressões do teatro para mim são as mesmas da vida.
É um bom poema para um final de ano, quando tudo se refaz n' A incorrigível prontidão de tudo reatar no dia seguinte.
Talvez ajude a pensar no quão tudo é transitório, e em como isso torna tudo relativo.
É uma das lições que tenho praticado; como uma criança a fazer cópias na escola.
Mais importante na tragédia para mim é o sexto acto:
o reviver dos mortos nas cenas de combate,
o corrigir das perucas e dos trajes,
o arrancar da faca do coração,
o retirar da corda do pescoço,
o enfileirar ao lados dos vivos
de cara voltada para o público.
As reverências um a um e em conjunto:
a mão branca na ferida do coração,
a respiração da suicida,
a cabeça cortada que se inclina.
As reverências aos pares:
a ira dá a mão à suavidade,
olha afável a vítima nos olhos o verdugo,
tropeça sem rancor o rebelde ao lado do tirano.
O pisar da eternidade pela biqueira dourada da botina.
O dispersar das morais pela aba do chapéu.
A incorrigível prontidão de tudo reatar no dia seguinte.
A entrada em procissão dos mortos muito antes,
no terceiro acto,no quarto ou nos entreactos.
O mágico regresso dos desaparecidos sem notícia.
Pensar que esperaram nos bastidores, sem impaciência,
sem tirarem as vestes,
lavar as maquilhagens,
emociona-me mais do que as tiradas trágicas.
Mas realmente delirante é o cair do pano
e o que na estreita frincha é dado ver ainda:
é uma mão que apressada a flor apanha,
outra que vai pela espada abandonada.
É só então que vem uma invisível terceira
cumprir a obrigação:
dar-me o nó na garganta.
Wislawa Szymborska
Shakespeare disse que todo o mundo é um palco, mas eu acho que Wislawa o diz melhor - a vida é como uma peça de teatro.
Realidade ilusória, verdadeira apenas quando representada. As impressões do teatro para mim são as mesmas da vida.
É um bom poema para um final de ano, quando tudo se refaz n' A incorrigível prontidão de tudo reatar no dia seguinte.
Talvez ajude a pensar no quão tudo é transitório, e em como isso torna tudo relativo.
É uma das lições que tenho praticado; como uma criança a fazer cópias na escola.
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