Sobe indolente o gato para as costas do sofá. Como um monte de folhas secas, espalha-se o corpo numa figura amorfa onde deixa de se distinguir o começo e o fim. Cansado ou desinteressado, ou cansado de tão desinteressado, ali fica. Se levanta a cabeça, é para olhar a chuva lá fora, ou algum gato que passa sentindo no pelo o que ele nunca sentiu.
(fonte aqui) Eu não durmo, respiro apenas como a raiz sombria dos astros: raia a laceração sangrenta, estancada entre o sexo e a garganta. Eu nunca durmo, com a ferida do meu próprio sono. Às vezes movo as mãos para suster a luz que salta da boca. Ou a veia negra que irrompe dessa estrela selvagem implantada no meio da carne, como no fundo da noite o buraco forte do sangue. A veia que me corta de ponta a ponta, que arrasta todo o escuro do mundo para a cabeça. Às vezes mexo os dedos como se as unhas se alumiassem. (...) Nunca sei onde é a noite: uma sala como uma pálpebra negra separa a barragem da luz que suporta a terra. (...) Herberto Helder , Walpurgisnacht
finalmente tens um gato!
ResponderEliminarAinda não!
EliminarÉ o da minha vizinha... :/
tu precisas de um gato!
ResponderEliminarÉ um diagnóstico acertado, é. :)
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