E a chuva não caía, não havia «gotas que acrescentavam vidro ao vidro deformando as roseiras à medida que desciam». Mas os troncos caminhavam para trás na viagem de regresso a Lisboa, enquanto Lobo Antunes invocava fantasmas fechados numa gaveta feita de páginas. Na verdade, não sei se ele os invoca ou se são eles que o escolhem para lhes dar voz, mas deve haver qualquer tipo de transferência entre escritor e personagens, para que lhes consiga chegar tão fundo. Ler António Lobo Antunes não é para meninos; não é para quem gosta de ler histórias, mas para quem quer ler pessoas ( Os romances maus contam histórias, os romances bons mostram-nos a nós mesmos ). É para quem não tem medo de enfrentar o interior de personagens que espelham pedaços de nós (não nas acções; nas fraquezas, nos pensamentos que não gostamos de admitir nem a nós mesmos). É para quem não tem medo de não saber o que dizer dos seus livros, mas tem a coragem de mergulhar neles. Porque afinal, é impossível f
já alguma vez reparaste que, a não ser entre amantes com um nível de intimidade já profundo, os humanos não conseguem estar no silêncio, na quietude? ou porque aborrece, ou porque é demente, ou porque é uma conduta que cedo se torna embaraçosa, etc?
ResponderEliminarJá reparei, sim, até porque já tive momentos desses (acho que todos já os tivemos). Talvez esteja relacionado com o quão nos sentimos confortáveis, com o quanto sentimos que o outro nos dá o espaço para sermos apenas nós. Daí que ele se possa encontrar em quem tem um maior grau de intimidade (e não só entre amantes, na minha experiência).
EliminarMas quando estamos sozinhos também temos tendência a procurar barulho, para 'nos distrairmos'.
Eu começo a esboçar uma teoria: sentirmo-nos bem no silêncio, é sentirmo-nos bem connosco. :)
(já iniciaste o Vida Secreta?)
...ainda não. nem o Petróleo. as minhas leituras têm sido feitas lentamente, mais lentamente do que é desejável, se é que para isto de ler há velocidades, eheh. amanhã vou ao cinema, ver o último Tarantino, na terça trabalhar numa tela.
ResponderEliminartenho lido o Tuesdays With Morrie, um livro bem interessante e muito bem escrito. Mitch Albom. eu comprei este livro de Pascal Quignard precisamente porque vi ele muito bem elogiado por aqui. :) e já percebi que sim, que é bom autor(li um ou outro texto entre aqueles fragmentos). Obrigado :)
A velocidade desejável é aquela que é confortável. Não há cá regras para a leitura. :)
ResponderEliminarEu vou continuar a ler este do Ernesto Sampaio, e tentar ir ver Tarkovsky no cinema. Não me queixo. ;)
Sim, Quignard é bom. Mas eu sou um suspeita, porque gosto muito.
...aquele ciclo que a Medeia está a organizar? tu és de Lisboa, certo?
ResponderEliminartambém conto ir ver um ou dois do Tarkovsky, desse ciclo, no Porto.
:)
Sim. E sim. :)
EliminarEntão logo trocamos impressões. ;)
Bom cinema!
:) boas sessões.
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